Diferente do que muita pessoas pensam, o samba paulista não tem a mesma trajetória do samba carioca, apesar das semelhanças histórias e musicais. O samba em São Paulo guarda singularidades que enriquecem o ritmo, além de evidenciar um contexto histórico do que viria a se tornar a maior metrópole do país.
História do Samba Paulista
A cultura do café, enraizada no interior paulista, inflou a economia brasileira na segunda metade do século XIX. Em Santana de Parnaíba e cidades do entorno, a economia cafeeira transformou a realidade de muitos habitantes do município e de outras localidades; entre eles, os negros que foram levados e escravizados nas fazendas.
[read_more id=”2″ more=”Continuar lendo” less=”Esconder”]O tráfico de pessoas e o aumento da oferta de mão-de-obra, legitimada pelo estado escravocrata, foram responsáveis por tornar o Brasil um dos maiores exportadores mundiais de café. Mas o protagonismo oculto dos negros do interior de São Paulo não se limita apenas ao crescimento da economia do país.
Foram eles que, mesclando costumes, manifestações culturais singulares e resistindo à escravidão, deram origem a um dos símbolos internacionais da música brasileira: o samba paulista.
Ao contrário da comum associação, o samba paulista não é derivado do samba carioca, originado das camadas populares que ocupavam os morros do Rio de Janeiro. Em São Paulo, o samba nasceu da cultura caipira e rural, fluindo de ritmos como Tambu, Batuque de Umbigada, Samba de Bumbo, entre outros.
Com o declínio da cultura do café, muitos habitantes do interior paulista migraram para o centro urbano de São Paulo no final do século XIX, época em que a capital assistiu à construção de cortiços e novas moradias para abrigar trabalhadores do campo e suas famílias.
Dos batuques nas senzalas do interior paulista, o samba rural de São Paulo ganhou novos espaços na região central da cidade, local do encontro de negros, imigrantes, retirantes nordestinos que tentavam a sorte na grande metrópole.
Saudosa Maloca
Locais como Largo da Batata e Bexiga ficaram conhecidos pelas tradicionais rodas de samba, compostas por instrumentos tipicamente caipiras como bumbo, caixa e reco-reco de bambu, utilizados nas manifestações do samba na cidade de Pirapora do Bom Jesus.
A chegada de grandes fábricas e indústrias à capital provocou uma forte urbanização metropolitana, potencializada por essa industrialização, acabou com diversos cortiços e moradias irregulares – em sua maioria, ocupados por negros e imigrantes – do centro da cidade. Era o fim das “malocas”, um “causo” retratado por Adoniran Barbosa em seu memorável samba, Saudosa Maloca, em 1951.
A partir desse marco histórico, o discurso do samba palista ganha força ao resgatar sua origem e a cultura negra da cidade de São Paulo, e isso pode ser observado na preservação da tradição do samba paulista na narrativa dos sambistas. As canções trazem crônicas e histórias tipicamente urbanas que representam as vivências e acontecimentos da época.
João Rubinato, popularmente conhecido pelo seu personagem Adoniran Barbosa, retratou com fiel poesia a realidade das classes sociais mais afetadas pela urbanização. O ator, compositor e humorista olhou a cidade grande com os olhos de um caipira, mesclou o sotaque interiorano com trejeitos dos imigrantes italianos, criou um linguajar próprio com suas crônicas urbanas repletas de personalidade e cadência musical única.
É de Adoniran Barbosa os clássicos Trem das Onze, Tiro ao Álvaro, Samba do Arnesto, As Mariposas e muitos outros, que exaltam a simplicidade lírica do samba paulista, e ficaram conhecidas nas vozes de João Gilberto e Demônios da Garoa. Em algumas entrevistas e programas de rádio, Adoniran dizia “Faço samba para o povo. Por isso, faço letras com erros de português, porque é assim que o povo fala. Pra falar errado, é preciso saber falar errado”.
É assim que percebemos a virtuosidade do sambista. Seu personagem não era um mero reprodutor de falas da gente comum e realidades cotidianas. Sua arte musical transitava por locais, conversas, histórias e experiências vividas na cidade grande; suas crônicas, sobretudo, representam parte da metrópole que ele vivenciava.
Um discurso afinado com a poética das pessoas que habitam certo espaço de exclusão no contexto urbano de São Paulo, narrativa que expressa uma polifonia de vozes originadas de diferentes heranças culturais sintetizadas no samba paulista. No final de 2013, a prefeitura do Estado reconheceu o tombamento do samba paulista como patrimônio imaterial de São Paulo.
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