“Viola, minha companheira”

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Como violeiro tenho feito muita coisa. Já gravei muito material didático, já escrevi muito arranjo e já escrevi de todos os assuntos possíveis relacionados com a viola. Também já compus, gravei e viajei por muitos lugares levando esse instrumento comigo, ou melhor dizendo, ela me levou, porque tenho certeza de que jamais teria estado em certos lugares se não fosse pela música.

Mas acho que queria começar minha participação nesse blog do Planeta Música contando algo que só digo na intimidade, minha e do meu instrumento. A imensa paixão que a viola me provoca.

É sem dúvida um grande caso de amor de um músico pelo seu instrumento. Esse artefato produzido com tanto esmero por um luthier, que da madeira bruta extrai essa peça de arte que produz som, e que na mão de um tocador expressa todo tipo de emoção possível. Não, não dá para dizer o que é a música. Só dá para dizer que pessoas que tem contato com a música são mais felizes.

Comigo aconteceu assim: sempre fui músico. Na infância comecei tocando clarinete na Sociedade Musical Eduardo Tenório em Cachoeira de Minas. Essa banda ainda existe, assim como várias bandas de coreto que iniciam crianças na música, como aconteceu comigo.

Na adolescência comecei a tocar em bandas de rock com meus amigos, e dessa vez meu instrumento passou a ser o baixo elétrico, que toquei por 10 anos. Com esse instrumento ganhei meus primeiros cachês. Depois resolvi estudar seriamente e fui pro Conservatório de Pouso Alegre estudar música erudita, dessa vez com o contrabaixo acústico.

E nesse mesmo conservatório, do qual tenho as mais queridas lembranças, tive meu primeiro contato com a viola. Uma antiga Del Vecchio que ficava guardada no almoxarifado sem ninguém usar, com as cordas grudentas e empoeiradas.

Essa viola, que ainda é patrimônio no Conservatório de Pouso Alegre, me despertou algo que eu nunca sentira antes. Fiquei enlouquecido, queria passar todo o tempo do mundo tocando e decifrando aquela lindeza. Como todo mundo que começa sofria pra mantê-la afinada, quebrava corda toda hora, mas fui em frente, pegando uma dica aqui, outra ali.

Existia pouca coisa naquela época, final dos anos 90, internet estava só começando. Mas a “internet cósmica” que existe pairando no ar é impressionante, porque só de ir fuçando do meu jeito fui mergulhando em um instrumento que não era como os outros, tinha muitos mistérios a revelar.

A minha mãe, por exemplo, quando me viu agarrado com a viola veio me contar histórias de meu avô que eu não conhecera que também era violeiro – e eu não sabia! E uma de suas músicas preferidas que fez parte da trilha sonora da infância da minha mãe veio a ser uma das mais importantes da minha carreira também: Saudades de Matão, composição de Jorge Galati.

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Hoje depois de tantos anos tocando, ensinando, compondo, posso dizer que essa paixão não passou. Amadureceu. A viola caipira é minha subsistência, coisa que me faz ser um cara privilegiado, porque viver de música sabemos que não é fácil. Mas isso não é o principal. O principal é chegar nos lugares e ser bem recebido, querido pelas pessoas, pelo simples fato de que eu ser violeiro e trazer a alegria sempre presente da música. Isso é uma coisa sem preço, uma dádiva divina.

Queria contar isso pra vocês nesse blog pra parecer inspirador, pois também fui inspirado por muita gente e acredito que uma energia boa que a gente recebe deve ser compartilhada pra não ficar estagnada. Então, de tudo o que eu poderia dizer que considero importante para um estudante de música, talvez a coisa mais importante seja isso.

Ame seu instrumento! Seja apaixonado de verdade por ele e renove esse amor todos os dias, tocando dedicadamente. E compartilhe a alegria da música com os outros, pois essa é missão de nós músicos.

Um abraço a todos e até a próxima!

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